Acústica aplicada no estilo shizen de reparação
- Araken Busto
- 23 de abr.
- 3 min de leitura

Continuando a falar do novo estilo Shizen criado por mim para a técnica japonesa Kintsugi de restauração, neste terceiro post quero falar da parte acústica deste estilo.u
Na verdade, todo meu empenho em criar este estilo nasceu dos meus questionamentos quanto a resultados acústicos de todas as técnicas existentes que eu conhecia.
As técnicas desde as mais simples até as mais invasivas, que em minha opinião, comprometiam o resultado acústico do instrumento por não respeitar a naturalidade da madeira.
As técnicas eram desde fechar uma trincas ou rachaduras apenas com cola cianoacrilato, até as mais invasivas como desbastar a madeira e inserir um anel de metal ou fibra de carbono ao redor do corpo do instrumento dando tensão neste local, até abrir vários orifícios passantes sobre a rachadura para introduzir um parafuso onde, da mesma forma, gerar tensão nesta parte do corpo do instrumento.

Anél de fibra de carbono.
Anillo de fibra de carbono.
Essas técnicas apesar de serem usadas há muitos anos, nunca me convenceram e por isto, minha inquietude em buscar uma nova solução que a diferenciasse de todas as técnicas já existentes e, à raiz desta inquietude, comecei minha pesquisa, experimentos, desenvolvimento e documentação de toda a técnica.

Como a arte japonesa me encanta e amo a profundidade de assunto com que os japoneses depositam nos detalhes em cada proceso, e, após visitar o Japão por diversas vezes, trabalhando com eles e convivendo com japoneses de várias idades, pude comprovar que a dedicação nos detalhes está presente em todas as gerações e isto é o que faz dos estilos japoneses algo único.
Também como segunda paixão, tenho a comida. Cozinhar é algo que eu realmente faço com muito amor e dedicação, por isto em minha vida, obviamente, não poderiam faltar as facas japonesas que coleciono.
Estudei sobre os estilos de fabricação de facas e vi a quantidade de detalhes que essas técnicas possuem e o quanto poderia aprender e aplicar em meu trabalho partes destas técnicas.
Dito tudo isto, decidi esquecer tudo o que sabia referente à reparação da madeira e começar a compreender o que ocorria desde o princípio, suas causas, reações e desenvolvimento das fissuras para poder desenhar algo novo e que tivesse como essência: um estilo japonês. Busquei inspiração na terra do sol nascente, sua maravilhosa história de tradição e meditação para poder, pouco a pouco, encontrar o caminho que a própria madeira pudesse me direcionar.
Tudo parte da base acústica tendo como pontos principais: o equilíbrio de resistência, alteração estrutural da madeira e energia vibracional. Estas diretrizes determinaram as bases de minha técnica.
Enquanto os tipos tradicionais de reparação geram resistência no local da rachadura, meu estilo cria literalmente pilares que servem como âncora de alívio de tensão para a madeira. Estes pilares são inseridos para aliviar tensão e sustentar as alterações naturais da madeira devido às mudanças de temperatura, garantindo uma superfície favorável a passagem de vibração no corpo. Além disto, podem ser aplicados 04 tipos de colas diferentes na reparação de acordo com cada caso. Estas colas possuem estruturas diferentes, sendo mais elásticas ou mais cristalizadas que, ao serem aplicadas de forma correta, facilitam a passagem das ondas de vibração.

É um estilo de reparação mais complexo, porém, mais efetivo. Não se trata apenas de uma questão estética, mas sim, de uma restauração profunda e de integração alinhada com as necessidades do instrumento e do músico.
Neste processo, podemos ajustar alguns parâmetros sonoros, fazendo com que o instrumento soe de uma maneira que o músico deseja.
O ouro inserido tanto no processo como no acabamento, insere um elemento a mais para aflorar os harmônicos que o instrumento pode oferecer.

A parte final do acabamento a ouro é uma pequena parte de um longo processo e, simplesmente, revelará ao final a qualidade do trabalho do restaurador e a essência do instrumento.
Explico isto para que os técnicos não tentem apenas fazer um acabamento que pareça uma técnica Kintsugi, mais sim, busquem formar-se para poder aplicar este estilo.
Muito em breve farei o primeiro treinamento para capacitar a técnicos de vários países para poder aplicar esta técnica e novo estilo.
Convido a todos a acompanharem meu site para que possam saber as datas desta e de outras formações técnicas para diferenciarem-se do que já existe no mercado.
Finalizo dizendo que, não condeno as técnicas de reparação convencionais já existentes, mas que por questões acústicas, visuais e históricas, eu prefiro oferecer aos meus clientes algo único e exclusivo, novo, porém, baseado em técnicas milenares e tradicionais.
Um forte abraço a todos e nos vemos no próximo blog.
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